Com um gim-tônica na mão e histórias de valor inestimável na ponta da língua, o conde mais rico do país diz que está pensando em dar uma chance à política e se diverte muito com as histórias absurdas que inventa.
Por Fábio Dutra para a edição de outubro da revista Poder
Foto's door Paulo Freitas en Maria Antônia Anicetto
Chiquinho Scarpa acorda entre 9h e 10h – o horário é flexível, mas nunca depois das 10h – e inicia mais um dia de muito trabalho. Atua principalmente no setor imobiliário, já que a família não administra nenhuma das empresas que já possuiu, como as cervejarias Skol e Caracu, e apenas possui ações em algumas delas. Hoje, a renda vem de aluguéis, vendas e novas concessões de terrenos que Chiquinho vai construindo aos poucos nas inúmeras terras que lhe foram legadas por seu pai, Francisco Scarpa, um dos maiores industriais da primeira metade do século passado. Entre 13h e 3h, ele toma sol na cobertura da mansão onde nasceu e ainda mora, no Jardim Europa, bairro nobre de São Paulo. Ele é vizinho do consulado chinês e diz que o cônsul tem o mesmo hábito e que os dois interagem: “Eu faço a festa maior, ofereço água de coco e alguma coisa para petiscar, nos damos bem. Mas ele nunca me ofereceu nada!”, ela ri. Hora no final da tarde para treinar com um personal trainer nos equipamentos que ele tem em casa, depois fazer alguns trabalhos, responder e-mails e assinar cheques, geralmente no computador, e depois ir a um clube social à noite para ir à reunião. . envolvimento, se houver. Tudo isso sem a companhia da esposa, Marlene Nicolau, que não mora com ele e raramente tem tempo durante a semana, pois trabalha muito em sua rede de escolas de informática. Na sexta, ela leva a mala e os cuidados para a mansão e passa o fim de semana com o amante. “É por isso que quero vender a casa. É enorme, dá muito trabalho e fico sozinho lá. Minhas irmãs, que são vizinhas de parede, nunca vêm me visitar, eu vou até elas. Não adianta ter uma casa dessas só para mim”, garante para si mesmo, nunca admitindo que esteja passando por qualquer tipo de dificuldade ou mesmo de podridão financeira.
Às 13h14, o conde Francisco Scarpa Filho, ofegante, chegou a Parigi, São Paulo, onde já o esperávamos. Apesar de estar atrasado apenas alguns minutos, ele pede desculpas sem parar, como se desrespeitar o horário marcado fosse impensável para um nobre como ele. Ele está vestido como um cavalheiro: um paletó trespassado, algo entre o verde musgo e a mostarda, perfeitamente ajustado, uma camisa branca com listras verdes, uma gravata Hermès verde, um lenço combinando no bolso do paletó e sapatos marrons perfeitamente engraxados. Nos pulsos, pulseiras de ouro com pedras verdes, talvez uma esmeralda, e um lindo relógio com caixa retangular de ouro e pulseira de couro verde. Vermelho de sol, num tom tão intenso que de longe lembra a pele à la Berlusconi que trabalhava nas sessões de jettan, ele deixa claro como se veste. “Só compro gravatas e lenços, o resto é sempre feito sob medida, inclusive sapatos”, explica. Ele pede um gim-tônica com Hendrick's e pepino em vez do tradicional limão. “Você deve ter visto o príncipe Charles com um copo de pepino na mão. É esse gin, que tem base de pepino e devemos encarar dessa forma. Gostei quando experimentei e entrei porque nunca bebi e também não tinha tomado o meu. Mas é melhor não começar agora, pois o gim, você sabe, é o último estágio do alcoolismo. Isso só me incomoda de vez em quando”, diz ele. Ele pede desculpas novamente e diz que teve que esperar que um amigo do cartório de Sorocaba lhe trouxesse os livros para assinar para criar um novo loteamento na área. Alguns goles de gim reconstituído, ele está pronto para sábado. Mas qual é o problema, Chiquinho, de onde vem essa fama de playboy que não trabalha? “Me perguntam o tempo todo, mas foi tudo uma piada. Eu jogo muito e as pessoas começam a acreditar nas histórias. E eu estava sempre muito na TV, eu e meu amigo Toninho Abdalla, e criamos um concurso que as pessoas compravam, quem seria o maior playboy, foi muito divertido. Mas sempre trabalhei." Ele conta que desde os 14 anos seu pai, muito rígido (diz que o pai nunca o abraçou), o levou para trabalhar nas empresas da família. Cuidar de tudo em todas as áreas. Mas sem delegar qualquer coisa.
GOMA DA FLORESTA
Porém, foi depois do expediente que se tornou folclore no imaginário popular. A personalidade pública que ele criou é tão exagerada que nenhum jornalista se surpreendeu com a história que publicou há algum tempo de que iria enterrar um enorme carro importado em seu quintal. Ficou então claro que se tratava de uma jogada de marketing para incentivar a doação de órgãos, mas que nunca funcionaria se o evento fosse atribuído a alguém que as pessoas consideram um dado adquirido. Cinco minutos de conversa com o conde são suficientes para que ele perceba que não está preso à verdade. Nem sempre as datas e os nomes coincidem e ele parece mais preocupado em contar uma boa história ou até mesmo em pregar uma peça no interlocutor. “Às vezes me arrependo das histórias porque são elas que me dão mais dificuldade para ganhar a vida”, ela ri, lembrando de uma em particular: “Fui pegar um prêmio e estava morrendo de vontade de ir ao banheiro. Queria subir rápido no palco, agradecer e correr para tirar todo esse fluido, mas no caminho um repórter do meu amigo Amaury Jr. ele me parou para perguntar qual seria minha próxima cirurgia. Qual é esta questão; Disse-lhe então que, por ser pequeno, seria hospitalizado na África do Sul nas próximas semanas para uma operação experimental que estão a realizar lá para colocar uma prótese de 15 centímetros em cada fémur. Saiu na revista ‘Flash’, liguei para o Amaury e rimos. Sempre invento histórias malucas quando me fazem perguntas esquisitas." Em outra, Chiquinho teve que se esforçar ao máximo para homenagear o que disse à equipe da apresentadora Eliana. Brincando, mandou erguer no jardim de sua casa uma mastro e içou a bandeira com o brasão da família, para não parecer deslocada diante das residências diplomáticas ao seu redor. A equipe indagou sobre o assunto e informou que realiza a cerimônia de hasteamento da bandeira todas as manhãs sob o som do hino, tocado por trompetes. Quando planejaram gravar o evento no dia seguinte, as coisas ficaram feias. "Levei horas para encontrar uma versão do hino apenas com corneta no YouTube, com a mão direita na Rua 25 de Março entregou o instrumento. No dia seguinte escondemos um pequeno alto-falante com a gravação, acompanhado do meu mordomo soprando a bochecha na buzina como se estivesse tocando durante a cerimônia”, ri. Se é difícil acreditar que o gentil narrador Chiquinho realmente trabalhou duro na vida, também é difícil acreditar que a sorte da família tenha durado tanto tempo, por mais divertida que seja.
LICENÇA DE SEGURANÇA
O iPhone 6 banhado a ouro importado da Califórnia está certo e com razão. Por outro lado, um juiz, seu amigo, pede o número de um processo. Conversam e Chiquinho depois explica-nos que a autoridade prometeu ajudá-lo. Trata-se da desapropriação do terreno de sua família para a construção do aeroporto de Guarulhos, que nunca foi indenizada. Muitas propriedades são confiscadas e sempre que o dinheiro entra, o juiz dá prioridade aos outros escritores, presumindo que ele é o que menos precisa dos recursos. Pelos seus cálculos, ele tem direito a cerca de R$ 18 milhões em ação. “Almoçamos juntos e quando toquei no assunto, o juiz disse que conhecia o juiz e prometeu mediar”, explica ele, expressando sua profunda preocupação em colocar as mãos no dinheiro. Pede ao garçom, que já o conhece bem – o restaurante é um dos seus preferidos – o peixe do dia, um robalo, acompanhado de risoto de limão siciliano, e aceita com calma o assunto política, sua nova ocupação.
O AMIGO DO BISPO
Dom Endir Macedo, recentemente filiado ao PRB, partido da Igreja Ecuménica do Reino de Deus, Chiquinho Scarpa, que nunca participou nas eleições apesar da sua enorme popularidade, admite ser candidato à Câmara Municipal. “É um partido sério, tal como há outros, mas com uma particularidade: é o único que tem dinheiro próprio. Isso torna as coisas mais fáceis. E é separado da igreja. Para fazer parte do partido é preciso se desligar da religião, como fez Marcelo Crivella. Acho que sou um nome popular, junto com Celso Russomanno e outros, e se me derem meios posso, sim, representá-los nas urnas, mas não vou colocar a mão no bolso para concorrer. escritório”, explica. Participando dos recentes protestos contra o governo Dilma Rousseff, ele diz ser contrário ao impeachment: “Não votei a favor, sempre fui contra o PT e acho que o partido está causando muitos danos no Brasil. Mas ele foi eleito e a regra deve ser respeitada. Vou a protestos, sim, como cidadão brasileiro, mas não acho que isso deva parar”.
ABENÇOADA ENTRE AS MULHERES
Chiquinho foi casado duas vezes antes de conhecer Marlene, mas não teve filhos, sonho que nunca realizou e que hoje não acredita mais que se tornará realidade. No primeiro, com Carola Scarpa, um tumultuado divórcio televisionado terminou quando, instigada por apresentadores de talk shows populares presentes na sala, ela disse que o flagrou tendo relações homossexuais. Ele não tem palavras duras para ela (Carola faleceu em 2011), que só queria fama na TV, mas não tem simpatia pelo apresentador Gilberto Barros, que armou tudo em busca de audiência. “Ele saiu do programa depois disso e recentemente eu até ajudei a trazê-lo de volta ligando para alguns amigos quando descobri que ele estava muito mal e precisava de trabalho”, explica. Mais magro e saudável do que nunca, ele recusa a sobremesa, mas aceita um segundo gim-tônica. E aproveita para repetir o que já havia contado a Joyce Pascowitch no programa de entrevistas “Que Loucura É Essa?!” no canal do YouTube TV Glamorama: “Estou muito feliz com a Marlene! Ela é a primeira mulher com quem me relaciono e não é pobre nem puta”, brinca. Mas será que os velhos amigos não vão ficar zangados com tal afirmação de um senhor como Chiquinho? "Não, não. Porque quem não é prostituta sabe que é pobre. E quem não é pobre sabe que é prostituta", ela ri ainda mais. Na mesma entrevista, mas também durante a nossa conversa, ela garantiu que nunca fará isso. ser pobre nesta vida porque não é estúpido o suficiente para perder o que tem. Mas caso o impossível aconteça, Marlene poderá ser o ganha-pão da família com os frutos do negócio que dirige, de propriedade de Chiquinho. Instagram, um grande embaixador. Ele agradece a todos, se despede e sai acompanhado de dois seguranças. De Bentley, bien sur.
VIAGEM
Francisco Scarpa alugou os dois primeiros andares do Edifício Scarpa, lendário prédio da Avenida Paulista, na Varig, ainda na época de Rubem Berta. A partir daí começou uma amizade e Berta convidou Scarpa para conhecer o primeiro transatlântico estilo Boeing da companhia aérea. O magnata ligou para o filho Chiquinho, que teve a ideia de contar aos amigos que havia comprado um avião e convidá-los para passar um fim de semana em Paris. Fotógrafos fofoqueiros, amigos, festeiros e até a sogra de um conhecido esperavam para embarcar no avião quando o jovem conde discutiu com o piloto (um ator contratado) por falta de manutenção da turbina. Resultado: A “viagem” é cancelada. A justificativa de Chiquinho quando a história vazou e os amigos exigiram: “O que é melhor: passar um fim de semana em Paris ou a notícia de que fomos ao jornal?”